À semelhança dos últimos anos, foi possível acompanhar a população de águia-pesqueira em Portugal durante a época de reprodução de 2022 graças ao apoio financeiro do CiBio/Biopolis.
De salientar também que o esforço realizado no passado, no âmbito do projecto de Reintrodução da águia-pesqueira em Portugal, produziu os seus frutos ao possibilitar a instalação de dois casais desta espécie em zonas distintas do país. Os dois territórios ocupados situam-se nos concelhos de Elvas e de Sines, a cerca de 165km um do outro e reforçam a estratégia adoptada de criar condições para a instalação de núcleos distintos.
O casal de Elvas que ocupa o mesmo território desde 2015 é constituído por um macho libertado no projecto de reintrodução português no qual foi colocada anilha verde com código P23 e uma fêmea libertada pelo projecto de reintrodução espanhol e com anilha de cor preta e código 9UW. Ambos nasceram em 2012 provenientes de programas de reintrodução.
O território de Sines foi ocupado em 2021 e é constituído por um macho de origem incerta, ou seja, não tem anilhas que possam comprovar a sua proveniência e uma fêmea nascida em 2017 em Espanha, portadora de uma anilha amarela com código MH.
No presente ano não houve alteração na composição dos dois casais reprodutores, podendo dizer-se com algum grau de segurança que os dois casais são constituídos pelas mesmas aves, apesar do macho do casal de Sines não ter anilha que o identifique.
Os dois indivíduos do casal de Elvas foram observados juntos pela primeira vez no território a 10 de Março. No entanto o macho foi observado na área a 2 de Março por Francisco Barreto.
A primeira visita ao casal de Sines ocorreu a 24 de Março tendo sido observado o casal em cópula no ninho.
O casal de Elvas ocupa o mesmo território deste 2015 e este é o primeiro ano em que não teve sucesso reprodutor, apesar do casal manter o ninho e serem observados no território durante toda a época.
Quantas crias nasceram
Este ano de 2022 somente uma cria nascida no território de Sines conseguiu voar.
Não foi possível apurar com exactidão as causas para o insucesso reprodutor. No entanto as altas temperaturas que se fizeram sentir nesta época reprodutora podem estar na origem. Falaremos mais à frente sobre este tema.
Anilhagem
No passado dia 23 de Junho foi anilhada a única cria de águia-pesqueira nascida em Portugal. Nesta fêmea foi colocada uma anilha metálica no tarso esquerdo e uma anilha de cor verde com o código PA6 no tarso direito, para facilitar a sua leitura à distância.
Na sessão de anilhagem, Jorge Safara, contou com o apoio de Carlos Noivo (ICNF) Cátia Cardoso, Mário Abrantes e Ruben Malveiro (Águas de Santo André).
Temperaturas elevadas
Segundo o Boletim Climático de Portugal Continental ocorreram ondas de calor nos meses de Maio e Junho (IPMA). Estas ondas de calor ocorreram entre 3 e 14 de Maio (10 dias) e entre 9 e 17 de Junho (9 dias). Os efeitos das ondas de calor fizeram-se sentir de forma diferente nos dois territórios ocupados. Estes fenómenos extremos de altas temperaturas poderão estar na origem do insucesso reprodutor dos casais de águia-pesqueira em Portugal. Vejamos como foram afectados os territórios.
Sines
Durante o período reprodutor ocorreu uma onda de calor na região de Sines, afectando esta região durante 6 dias.
Elvas
Durante o período reprodutor ocorreram duas ondas de calor na região de Elvas, correspondendo a um total de 19 dias em que a temperatura máxima foi superior em 5°C ao valor médio diário no período de referência (IPMA).