Apesar de tudo foi um resultado positivo
Este ano de 2024 tiveram sucesso reprodutor três casais de águia-pesqueira em que a novidade foi o estabelecimento de um novo casal numa nova área. Também alterações aconteceram nos dois territórios ocupados em anos anteriores. No total foram anilhadas sete crias. Contaremos mais adiante tudo em pormenor.
A expansão da população reprodutora em Portugal tem sido lenta e com bastantes problemas à mistura, nomeadamente a redução de locais disponíveis para suporte dos ninhos e a competição com outras espécies por esses locais.
Nesta época tivemos um incremento no número de casais reprodutores e uma expansão em território português. O território de um dos casais situa-se na fronteira e nidifica num lado ou no outro da fronteira, mas este ano decidiu instalar-se do lado espanhol e pela primeira vez num poste de eletricidade. A espécie está presente em dois concelhos dos distritos de Portalegre e Setúbal.
A monitorização e acompanhamento da época reprodutora foi realizada por Jorge Safara, que contou com o apoio do CIBIO/Biopolis, da Estação Biológica de Mértola e da EDIA.
O território mais antigo
Como referimos no artigo de Maio (Águia-pesqueira e os preparativos de uma nova época) o casal veterano que se reproduz na albufeira do Alqueva desde 2015, decidiu mudar-se para uma nova localização, desta vez para um antigo ninho de cegonha-branca situado num poste de eletricidade, localizado na margem espanhola. Aqui nasceram três crias que foram anilhadas a 13 de junho, por técnicos da Junta de Extremadura.
Desde cedo que a localização deste ninho na linha elétrica suscitou preocupação, que levou as autoridades espanholas a uma intervenção rápida para colocação de dispositivos de segurança para garantir a sobrevivência dos ocupantes. Enquanto decorriam os trabalhos na linha eléctrica, procedeu-se à anilhagem das 3 crias, 2 fêmeas e um macho, com anilhas metálicas de origem espanhola e anilhas de cor verde com códigos PA7, PA8 e PA9.
Os progenitores, o macho com anilha verde P23 e a fêmea com anilha preta 9UW, ocupam este território deste 2015, ambos provenientes de projetos de reintrodução que aconteceram em Portugal e em Espanha, respetivamente. Neste território já dispersaram com sucesso um total de 17 juvenis. Ao longo dos 10 anos que este casal está activo teve a necessidade de construir oito ninhos diferentes, problema que se agravou nos últimos anos com a redução de locais disponíveis no meio do rio com qualidade suficiente para suportar os enormes ninhos.
A ocupação de um poste eléctrico por este casal de águia-pesqueira poderá abrir uma enorme possibilidade para uma expansão da população reprodutora em Portugal e Espanha. Na Península Ibérica este parece ser o primeiro caso, mas na Alemanha são muitos os casais de águia-pesqueira que instalaram os seus ninhos no topo de estruturas de média e também de alta tensão.
No entanto esta ocupação acarreta riscos de colisão na linha. Após a saída do ninho, ocorreu um incidente com o juvenil PA8 que acabou electrocutado na linha eléctrica. O ferimento não foi fatal e o juvenil foi reencaminhado pela Guardia Civil para o centro de recuperação AMUS em Villafranca de los Barros (Badajoz). Após a total recuperação deste juvenil foi libertado no dia 23 de Julho na albufeira de Alqueva. Pode ser visualizada a sua libertação através da conta de Instagram do centro de recuperação AMUS na seguinte hiperligação – https://www.instagram.com/p/C9xTGulqZl5/
O território costeiro
Num outro distrito junto à costa atlântica, o casal que se estabeleceu em 2020, voltou a ter sucesso reprodutor após um ano de insucesso. Este insucesso deveu-se à ausência da anterior fêmea, de origem espanhola com anilha amarela MH, que viria a ser substituída por uma outra fêmea sem anilha. Actualmente os dois membros do casal não têm anilha que possibilite saber a sua origem.
No território localizado no concelho de Sines nasceram 3 crias, duas fêmeas e um macho, que foram anilhadas a 20 de julho, com o apoio da empresa Águas de Santo André, de Vigilantes da Natureza e do biólogo Carlos Pacheco. Nas crias foram colocadas as anilhas de cor verde com códigos PC0, PC1 e PC2.
A novidade do momento
A novidade deste ano foi a ocupação de um ninho artificial instalado na albufeira do Caia por um casal de águia-pesqueira. Esta é a primeira vez que a espécie nidifica neste local e resulta no esforço desenvolvido ao longo de várias décadas na criação de condições para a ocorrência e permanência da águia-pesqueira nesta albufeira. Vários pousos foram colocados nas ilhas da albufeira, numa parceria do ICNF e da SPEA e com o envolvimento do Luís Venâncio. A utilização destas estruturas é bastante utilizada pela espécie. Em 2017 e no âmbito do projecto de reintrodução foram também instalados dois ninhos artificiais.
O casal reprodutor é composto por um macho sem anilhas e uma fêmea nascida em Cadiz, Espanha, em 2016, portadora de anilha amarela com código TR. Em 2024 nasceram duas crias, mas só uma sobreviveu (macho) e foi anilhada a 7 de julho, com o apoio do Núcleo de Proteção Ambiental de Portalegre da GNR/SEPNA e dos ornitólogos Carlos Pacheco e Luís Venâncio. Neste juvenil foi colocada uma anilha de cor verde com o código PC3.
A equipa do projecto tem acompanhado a presença desta fêmea deste 2018 quando tentou nidificar sem sucesso na albufeira do Alqueva, juntamente com o macho de anilha verde P82. Posteriormente, em 2021, formou casal com um macho já nascido em 2018 na albufeira do Alqueva, com anilha verde P59, e também não teve sucesso.
Outros casos interessantes
É também importante referir que a fêmea de águia-pesqueira nascida em Portugal em 2021, e portadora da anilha PA5, está a nidificar no Parque Natural das Marismas del Odiel, com um macho de origem espanhola (anilha amarela [OJL]) e criaram com sucesso 3 juvenis.