ninho de águia-pesqueira

Reprodução da águia-pesqueira em Portugal – 2025

A população reprodutora de águia-pesqueira (Pandion haliaetus) continua a expandir-se de forma lenta, mas progressiva. Em 2025 foram confirmados quatro territórios ativos, resultando na produção de sete juvenis. Verificou-se alguma alteração face ao ano anterior, nomeadamente com o estabelecimento de um novo casal num local até agora sem registos de nidificação.

A monitorização foi realizada por Jorge Safara, com o apoio do CIBIO/BIOPOLIS, da Estação Biológica de Mértola e da EDIA – Empresa de Desenvolvimento e Infraestruturas do Alqueva, S.A.

Território mais antigo (Portalegre)

Este território está ocupado desde 2015 por um casal formado por dois indivíduos provenientes dos programas de reintrodução em Portugal e Espanha: macho com anilha verde P23 e fêmea com anilha preta 9UW. Desde então, já produziram 17 juvenis.

Em 2025, não houve sucesso reprodutor. O casal ocupou inicialmente o ninho do ano anterior, num poste elétrico na margem espanhola do rio Guadiana, mas abandonou-o e construiu um novo ninho noutro poste na margem portuguesa. Nenhum dos dois locais resultou em reprodução bem-sucedida.

O novo poste apresenta riscos significativos de electrocução. Várias entidades foram alertadas, mas em vez de se proceder ao isolamento da estrutura, o ninho foi removido e foram colocados dispositivos anti-pouso durante a época reprodutora.

Desde a sua instalação, este casal já construiu dez ninhos diferentes, reflexo da instabilidade e da falta de locais adequados no território.

Território costeiro (Setúbal)

Ativo desde 2020, este território é atualmente ocupado por um casal sem anilhas. Em 2025 produziram três crias, anilhadas a 7 de julho com anilhas verdes PC6, PC7 e PC8. A operação contou com o apoio da empresa Águas de Santo André, dos Vigilantes da Natureza da Reserva Natural das Lagoas de Santo André e da Sancha e de um técnico do CEMPA.

Albufeira do Caia (Portalegre)

O casal é composto por um macho sem anilhas e uma fêmea com anilha amarela TR, nascida em 2016 em Cádis, Espanha. Após a primeira nidificação em 2024, voltou a reproduzir-se este ano, recorrendo a um ninho artificial instalado em 2017, uma vez que o utilizado no ano anterior foi ocupado por ganso-do-Egipto (Alopochen aegyptiaca).

Das três crias nascidas, duas sobreviveram e foram anilhadas a 26 de junho com os códigos PC4 e PC5. A anilhagem contou com o apoio do Núcleo Proteção Ambiental da GNR de Portalegre, do ornitólogo Carlos Pacheco e de um técnico do CEMPA.

Novo território – Ourique (Beja)

Em maio de 2025 foi identificado um novo casal nidificante no concelho de Ourique, após o avistamento e partilha de fotografias por Nuno Falé. O ninho foi construído num poste de alta tensão.

O casal é composto por uma fêmea sem anilhas e um macho com anilha verde PA4, nascido em 2021 no território de Sines. A reprodução resultou em duas crias.

Outros registos interessantes

Uma fêmea nascida em Portugal em 2021, com anilha verde PA5 (irmã do macho PA4), estabeleceu-se desde 2024 no Parque Natural das Marismas del Odiel (Espanha), onde nidifica com um macho de origem espanhola (anilha amarela OJL). Em 2025, o casal criou com sucesso três juvenis. A anilhagem contou com a participação de Jorge Safara, a convite do Parque Natural.

anilhagem águia-pesqueira nas Marismas de Odiel
Foto © Fidel Navarro

Síntese

TerritórioDistritoCasal (anilhas)Nº de criasAnilhas atribuídas
Ponte da AjudaPortalegreP23 (verde) × 9UW (preta)0
MorgavelSetúbalSem anilhas3PC6, PC7, PC8
Albufeira do CaiaPortalegre♂ sem anilhas × ♀ TR (amarela)2PC4, PC5
PanoiasBejaPA4 (verde) × ♀ sem anilhas2

Conclusão


Apesar dos desafios persistentes — como a ocupação de ninhos por outras espécies e a falta de locais seguros para nidificação — a população de águia-pesqueira em Portugal dá sinais de consolidação. O surgimento de um novo território e o retorno de casais aos locais habituais são indicadores positivos da resiliência da espécie.

A continuidade do acompanhamento técnico, a manutenção de estruturas adequadas e a articulação entre entidades públicas e privadas são fundamentais para garantir o sucesso da espécie a médio e longo prazo.